Filme sobre Ary Barroso encena a vida do artista com frieza, sem documentar com precisão a difusão da grande obra do compositor de ‘Aquarela do Brasil’
Ary Barroso (1903 – 1964) é personagem de documentário de André Weller em exibição na 27ª edição do Festival do Rio Reprodução / Filme ‘Ary’ ♫...

Ary Barroso (1903 – 1964) é personagem de documentário de André Weller em exibição na 27ª edição do Festival do Rio Reprodução / Filme ‘Ary’ ♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL Título: Ary Direção e roteiro: André Weller Cotação: ★ ★ 1/2 ♬ Atração da 27ª edição do Festival do Rio, onde tem sessões programadas para 9 e 11 de outubro na mostra Retratos após ter estreado na noite de ontem, 5 de outubro, o documentário Ary não dá conta de expor toda a grandeza, importância e influência de Ary Evangelista Barroso (7 de novembro de 1903 – 9 de fevereiro de 1964). Mais do que documentar, o diretor e roteirista André Weller optou por encenar e narrar parte da vida desse compositor e pianista mineiro cuja obra ajudou a moldar a música brasileira dos anos 1930 aos anos 1950 – a ponto de ter sido uma das principais referências de Brasil aos ouvidos norte-americanos antes de a bossa nova ganhar o mundo a partir de 1962. A ousada opção estética do diretor fica evidenciada longo na abertura de Ary, quando a morte dos pais do artista multimídia é contada em formato de novela de rádio, protagonizada pelos atores Dira Paes e Stepan Nercessian. Depois e ao longo dos 70 minutos do filme, ouve-se a voz do ator Lima Duarte narrando textos escritos por Ary Barroso na primeira pessoa. A voz do ator é ouvida sobre imagens novas e antigas que procuram recriar a atmosfera do Rio de Janeiro (RJ) no tempo do compositor. Ator gigante, Lima acerta o tom da narração, mas o uso recorrente do recurso prejudica o ritmo da narrativa de Ary. É louvável a tentativa de André Weller de chacoalhar a estrutura convencional e por vezes burocrática dos documentários musicais biográficos, até porque o personagem enfocado já morreu há 61 anos, o que dificulta a busca de pessoas que conviveram com Ary. De todo modo, seria fácil enfileirar depoimentos de cantores, compositores e músicos sobre a importância e influência da obra de Ary Barroso. Ainda assim, em que pesem algumas imagens raras e a preciosidade da seleção de gravações ouvidas no filme, a narrativa de Ary resulta arrastada, fria, às vezes enfadonha e sempre linear. O filme peca pela falta de emoção. As exposições de imagens de Ary Barroso em movimento (extraídas de filmes e programas de TV) dão algum alento ao espectador na narrativa atravessada pelo samba-exaltação Aquarela do Brasil (1939), ouvido de diferentes formas ao longo do filme. Ary também expõe na tela imagens da cantora Carmen Miranda (1909 – 1955) – principal intérprete do compositor nos Estados Unidos e ela própria um ícone que ajudou a construir a identidade musical estereotipada e quase folclórica do Brasil tropical no imaginário norte-americano – dando voz a sambas raros, como Batuca nega (1942), também ouvido no filme na gravação original do grupo Quatro Ases e um Coringa. Em contrapartida, a encenação artificial do programa Calouros em desfile, apresentado por Ary na era do rádio, enfatiza a insuficiência do filme como documentário. Até porque, sempre que entra a voz de Lima Duarte, é como se o espectador estivesse ouvindo um audiolivro na tela do cinema. Enfim, mesmo carregado das melhores intenções, o filme Ary (Napressão produções e Gibraltar Filmes) deixa a sensação de que Ary Barroso ainda merece documentário que contextualize com mais precisão a grandeza e a difusão da obra e que, na medida do possível, também investigue os meandros da personalidade do compositor. Cartaz do filme ‘Ary’, de André Weller Divulgação / Festival do Rio